Todo ano é sempre a mesma coisa. Professores iguais, amigos iguais. É um tédio. Eu saí do ônibus
escolar com uma moleza no corpo. Só de imaginar que teria que enfrentar a primeira das muitas aulas...
- Então a gente se vê no intervalo - disse Eliot, meu amigo do oitavo ano.
- Falou aluno do sexto ano - zombou Caio, me empurrando com o ombro ao passar por mim e se
encaminhando em direção à escola.
"Idiota!" - eu pensei.
Enquanto eu me penetrava na onda humana, meus passos foram interrompidos por Bárbara que me segurou
pelo pulso, dizendo um tanto excitada:
- Este ano vai ser diferente!
- Quê?!
- Venha comigo!
- Ahn?
E fomos, meio que tropeçando em todo mundo, aos banheiros desativados que há nos fundos da escola.
Ninguém, ninguém mesmo se atreve a ir lá. Quem é louco? Agora sei que os únicos loucos somos Bárbara e eu.
- O que vamos fazer? - eu disse, confuso, ao mesmo tempo, com medo. Medo? Sim. Não sei de quem, mas
sei que estava desconfortável ficando ali.
- Você sabe que há sete anos, um grupo de estudantes se suicidou aqui, né?
- Eu já sei dessa história - eu disse, revirando os olhos.
- E sabe também que a última pessoa que esteve aqui foi o zelador, só que há três anos né?
- Sei, sei - as palavras quase não saiam. - A-A-Aonde v-você q-q-q-quer c-chegar?
- Então, nós somos os mais corajosos em estar aqui.
- Olha, se era essa sua intenção, o-o-o que acha de voltarmos? O sinal já bateu. Vamos!
- Não! Er... ei, cê ouviu isso?
- S-sim, B-Bárbara! Parece com...
- Esses ruídos vieram do banheiro feminino. Vamos lá! Por você ser homem, vai na frente.
- Ar... Er... t-t-tudo b-bem.
Então nós nos esgueiramos ao banheiro feminino desativado. O local só não estava um breu por
causa das frestas ao longo da parede velha. A poeira dançava no ar. Cheiro de mofo misturada a urina fez meus
olhos lacrimejarem.
- Que cheiro hein! - eu disse enquanto esfregava o nariz.
- Ó, vamos dar uma limpa aqui e no banheiro masculino, e aí a gente vai embora ok?
- Ah, tudo bem - eu concordei a contragosto.
E não sei por que motivo, uma curiosidade me invadiu. Algo no último catre me fez ir até lá. Meus
passos eram puro alarme. Os minutos pareciam eternos. Tudo passou a ficar gritantemente angustiante.
Finalmente, eu estava diante do último catre. Com os dedos, empurrei a porta corroída e dei um
pulo para trás.
- B-B-B-B-Bárbara???
O corpo dela estava caído ao lado da privada imunda, mas pelo estado não fazia muito tempo que...
que... eu não sabia se minha amiga estava apenas desmaiada ou... Não tive coragem em me aproximar, eu somente
pensava em sair dali e pedir ajuda, porém... ao meu lado, deparo com a própria Bárbara! Impossível! Duas dela?!
- Agora é a sua vez - ela disse, numa voz fantasmagórica. - Ele quer você também...
- Ele?! Quem?!
- Vire-se, e curva-se a ele.
- Como é que é?! - eu tremia nas bases.
- Ele está atrás de você.Luana Mccain