Um
vulcão em erupção em plena Manhattan. Criaturas sofrendo mutação. E um
homem equivalente a uma bomba atômica voadora. Isso é “Capitão Átomo”
na nova DC.
Einsten deve estar se remoendo no túmulo.
Antes de qualquer coisa, vamos a um breve prefácio: Em 1985, Alan Moore e
Dave Gibbons levaram à DC uma ideia de revitalizar alguns personagens
da Charlton Comics, recém-adquiridos pela editora. Porém, devido a
problemas de direitos autorais tão maçantes que nem valem comentar aqui
pra não aborrecer vocês, os mesmos não estavam disponíveis para serem
usados.
Alan tinha uma boa história para contar… (alguma vez ele não teve??)
e como não podia usar os personagens que queria, decidiu criar
“versões” dos mesmos, dando a eles outros nomes, aparência e origens…
mas mantendo a essência deles. Então, o Besouro Azul virou o Coruja, Trovão virou Ozymandias, Pacificador virou o Comediante, Sombra da Noite a Espectral e Capitão Átomo o Dr. Manhattan. Assim nasceu a série Watchmen.
Às vezes a caricatura é melhor do que o produto verdadeiro. Podemos ver
isso agora na nova série do Capitão Átomo, onde a paródia dá lugar ao
original. Ou quase isso. A premissa da história é ótima, vemos o
protagonista perdendo o foco de sua humanidade, vendo-se as voltas com
as mudanças que isso está causando nos seus poderes, e na sua própria
percepção da realidade. Temos aqui, o ser de energia, o verdadeiro homem
atômico, acima da carne, mas não dos conflitos humanos. Dr. Manhattan. A
paródia de Alan Moore, que superou o original.
Sim, o conceito está todo lá… mas qual escritor está no nível de Alan
Moore? Eles existem mas são poucos. J. T. Krul, autor da revista do bom
Capitão não é deles.
Vejam bem, não estou dizendo que ele seja um péssimo escritor. Ele fez
coisas boas com os Titãs e foi até premiado pela sua série sobre a queda
de Roy Harper, o Arsenal. Claro, ser premiado e fazer um bom trabalho
não são necessariamente sinônimos… mas polêmicas à parte, este primeiro
número de Capitão Átomo é no mínimo curioso. Eu sempre quis ver esse
lado do personagem sendo melhor explorado. Até porque, ele já passou por
maus bocados… em 2001, seria ele o vilão secreto da série “Armageddon
2001”, mas a informação vazou antes da hora e a DC mudou os planos,
fazendo com que o terrível “Monarca” fosse na verdade Hank Hall, o
Rapina. (Recentemente ressuscitado e devidamente reabilitado. Mas como
castigo, sua nova série é desenhada por Rob Liefeld). Com isso,
o Capitão Átomo ficou um bom tempo desaparecido, teve algumas histórias
dispensáveis na série
“Contagem
Regressiva”, mas acabou retornando ao barco onde se deu melhor nos
últimos anos, junto a antiga equipe da Liga da Justiça Internacional.
Nesse novo rumo do personagem, ele descobre novas formas de usar seus
poderes, ainda que acidentalmente. Agora ele pode alterar a estrutura
molecular da matéria, exatamente como seu colega de heroísmo, Nuclear. O
problema é a quase total falta de controle dessa nova habilidade, que
inadvertidamente por pouco não o desintegrou molécula por molécula.
Na história, o bom Capitão pede conselhos ao cientista responsável pela
sua transformação, Dr. Megala (que nessa versão me lembrou um pouco o
cientista real Dr. Stephen Hawking ,
aquele que provou o primeiro de muitos teoremas de singularidade; tais
teoremas fornecem um conjunto de condições suficientes para a existência
de uma singularidade no espaço-tempo, fato que é citado pelo Dr.
Manhattan em “Watchmen”. Este trabalho demonstra que, longe de serem
curiosidades matemáticas que aparecem apenas em casos especiais,
singularidades são uma característica genérica da relatividade geral.
Hawking também sugeriu que, após o Big Bang, primordiais ou miniburacos
negros foram formados. Em 1974, ele calculou que buracos negros
deveriam, termicamente, criar ou emitir partículas subatômicas,
conhecidas como radiação Hawking).
Algo que chama a atenção nessa revista é a reflexão do Capitão Átomo em
relação à humanidade. Nas palavras dele: “Ganância, raiva, inveja. Esses
são nossos verdadeiros avanços. Autopiedade. Autoconsciência.
Autoaversão. Achamos que somos muito especiais”.
E ao contrário de outros personagens diletantes, que transbordam de
dúvidas as caixas de recordatórios dos gibis, o pensamento citado pelo
Capitão não foi um questionamento. Foi uma afirmação.
Bom, feitas essas considerações, digo que não esperava mesmo que fosse
uma história genial, mas quero ver onde isso vai dar… espero uma
explicação muito boa para o vulcão em Manhattan, quero uma luta decente
contra os ratos mutantes e ler sobre o Alan Moore reclamando que suas
ideias continuam sendo recicladas. Nesse caso, a reciclagem da
reciclagem. O Capitão Átomo pode ser radioativo, mas é ecologicamente
correto!
A propósito, a edição termina com a aparente morte do nosso
protagonista. Putz, que recurso batido, a gente sabe que ele não morre…
já havia as solicitações da revista até o número 5 no site oficial da
editora, com ele nas capas! Certos métodos narrativos é que deveriam ser
reciclados. Mas vale ressaltar que a arte de Freddie Williams II está
muita bonita, ainda que recebendo um forte tratamento gráfico.
Bom, só de terem finalmente aproveitado melhor o potencial do
personagem, já foi um grande passo. Vamos torcer muito pra isso evoluir
nos próximos números.
Nota: 6
Originalmente publicado no Santuário!
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