quinta-feira, 12 de julho de 2012

Capitão Átomo



Um vulcão em erupção em plena Manhattan. Criaturas sofrendo mutação.  E um homem equivalente a uma bomba atômica voadora. Isso é “Capitão Átomo” na nova DC.
Einsten deve estar se remoendo no túmulo.
Antes de qualquer coisa, vamos a um breve prefácio: Em 1985, Alan Moore e Dave Gibbons levaram à DC uma ideia de revitalizar alguns personagens da Charlton Comics, recém-adquiridos pela editora. Porém, devido a problemas de direitos autorais tão maçantes que nem valem comentar aqui pra não aborrecer vocês, os mesmos não estavam disponíveis para serem usados.

Alan tinha uma boa história para contar… (alguma vez ele não teve??) e como não podia usar os personagens que queria, decidiu criar “versões” dos mesmos, dando a eles outros nomes, aparência e origens… mas mantendo a essência deles.  Então, o Besouro Azul virou o Coruja,  Trovão virou OzymandiasPacificador virou o ComedianteSombra da Noite a Espectral e Capitão Átomo o Dr. Manhattan. Assim nasceu a série Watchmen.

Capitão Átomo e Dr Manhattan: os gêmeos do átomo!
Às vezes a caricatura é melhor do que o produto verdadeiro. Podemos ver isso agora na nova série do Capitão Átomo, onde a paródia dá lugar ao original. Ou quase isso. A premissa da história é ótima, vemos o protagonista perdendo o foco de sua humanidade, vendo-se as voltas com as mudanças que isso está causando nos seus poderes, e na sua própria percepção da realidade. Temos aqui, o ser de energia, o verdadeiro homem atômico, acima da carne, mas não dos conflitos humanos. Dr. Manhattan. A paródia de Alan Moore, que superou o original.

“Nós todos somos marionetes. A diferença é que eu enxergo as minhas cordas”.
Sim, o conceito está todo lá… mas qual escritor está no nível de Alan Moore? Eles existem mas são poucos. J. T. Krul, autor da revista do bom Capitão não é deles.
Vejam bem, não estou dizendo que ele seja um péssimo escritor. Ele fez coisas boas com os Titãs e foi até premiado pela sua série sobre a queda de Roy Harper, o Arsenal. Claro, ser premiado e fazer um bom trabalho não são necessariamente sinônimos… mas polêmicas à parte, este primeiro número de Capitão Átomo é no mínimo curioso. Eu sempre quis ver esse lado do personagem sendo melhor explorado. Até porque, ele já passou por maus bocados… em 2001, seria ele o vilão secreto da série “Armageddon 2001”, mas a informação vazou antes da hora e a DC mudou os planos, fazendo com que o terrível “Monarca” fosse na verdade Hank Hall, o Rapina. (Recentemente ressuscitado e devidamente reabilitado. Mas como castigo, sua nova série é desenhada por Rob Liefeld). Com isso, o Capitão Átomo ficou um bom tempo desaparecido, teve algumas histórias dispensáveis na série
“Contagem Regressiva”, mas acabou retornando ao barco onde se deu melhor nos últimos anos, junto a antiga equipe da Liga da Justiça Internacional.
Nesse novo rumo do personagem, ele descobre novas formas de usar seus poderes, ainda que acidentalmente. Agora ele pode alterar a estrutura molecular da matéria, exatamente como seu colega de heroísmo, Nuclear. O problema é a quase total falta de controle dessa nova habilidade, que inadvertidamente por pouco não o desintegrou molécula por molécula.
Na história, o bom Capitão pede conselhos ao cientista responsável pela sua transformação, Dr. Megala (que nessa versão me lembrou um pouco o cientista real Dr. Stephen Hawking  , aquele que provou o primeiro de muitos teoremas de singularidade; tais teoremas fornecem um conjunto de condições suficientes para a existência de uma singularidade no espaço-tempo, fato que é citado pelo Dr. Manhattan em “Watchmen”. Este trabalho demonstra que, longe de serem curiosidades matemáticas que aparecem apenas em casos especiais, singularidades são uma característica genérica da relatividade geral. Hawking também sugeriu que, após o Big Bang, primordiais ou miniburacos negros foram formados. Em 1974, ele calculou que buracos negros deveriam, termicamente, criar ou emitir partículas subatômicas, conhecidas como radiação Hawking).

Dr. Stephen Hawking
Algo que chama a atenção nessa revista é a reflexão do Capitão Átomo em relação à humanidade. Nas palavras dele: “Ganância, raiva, inveja. Esses são nossos verdadeiros avanços. Autopiedade. Autoconsciência. Autoaversão. Achamos que somos muito especiais”.
E ao contrário de outros personagens diletantes, que transbordam de dúvidas as caixas de recordatórios dos gibis, o pensamento citado pelo Capitão não foi um questionamento. Foi uma afirmação.

Os “gêmeos” vão à guerra!
Bom, feitas essas considerações, digo que não esperava mesmo que fosse uma história genial, mas quero ver onde isso vai dar… espero uma explicação muito boa para o vulcão em Manhattan, quero uma luta decente contra os ratos mutantes e ler sobre o Alan Moore reclamando que suas ideias continuam sendo recicladas. Nesse caso, a reciclagem da reciclagem. O Capitão Átomo pode ser radioativo, mas é ecologicamente correto!
A propósito, a edição termina com a aparente morte do nosso protagonista. Putz, que recurso batido, a gente sabe que ele não morre… já havia as solicitações da revista até o número 5 no site oficial da editora, com ele nas capas! Certos métodos narrativos é que deveriam ser reciclados. Mas vale ressaltar que a arte de Freddie Williams II está muita bonita, ainda que recebendo um forte tratamento gráfico.
Bom, só de terem finalmente aproveitado melhor o potencial do personagem, já foi um grande passo. Vamos torcer muito pra isso evoluir nos próximos números.
Nota: 6
Originalmente publicado no Santuário!

Nenhum comentário:

Postar um comentário