O misterioso Dr. Julian Olcott (o austríaco Carl Schell) é um médico com um passado misterioso que é contratado para trabalhar como professor de ciências numa escola reformatória somente para moças. Porém, ele não imaginava os problemas que iriam surgir e abalar a reputação da instituição quando durante certa noite de lua cheia, uma das garotas, Mary Smith (Mary McNeeran), que mantinha um romance secreto com um outro professor, Sir. Alfred Whiteman (Maurice Marsac), é encontrada morta com os olhos arregalados de pavor e com o pescoço violentamente dilacerado. A investigação policial sugere um ataque de lobo, já que esses animais habitam a floresta que circunda a escola, enquanto uma amiga da vítima, a jovem Priscilla (a polonesa Barbara Lass), alega que ela não foi assassinada por animais, despertando o medo entre as estudantes e criando uma lista de suspeitos na escola.
Confesso que depois de ver o apelativo nome do filme, “O Lobisomem no Quarto das Garotas” (Lycanthropus / Werewolf in a Girl´s Dormitory, 1962), imaginei se tratar de uma bomba daquelas totalmente descartáveis. Porém, para minha surpresa, o filme, com todas as suas falhas, pode ainda assim ser classificado naquele grupo de bagaceiras divertidas, procuradas apenas pelos colecionadores de filmes que sejam os mais bizarros e desconhecidos possíveis, ou seja, com produção paupérrima, elenco amador, roteiro despretensioso e efeitos toscos (nesse caso, a maquiagem do lobisomem).
Com direção do italiano Paolo Heusch (creditado com o pseudônimo de Richard Benson), o roteiro de Ernesto Gastaldi (sob o pseudônimo de Julian Berry), procura contar uma história de mistério, assassinatos e suspense, tentando estabelecer uma interação com o público para descobrir a identidade do autor dos crimes. Porém, falha em não explorar devidamente uma investigação policial (a participação do detetive é inexpressiva), deixando esse trabalho praticamente nas mãos dos próprios suspeitos, cuja lista vai desde professor recém chegado à escola, Julian Olcott, que no passado trabalhou na pesquisa de um antídoto para reverter o processo de transformação do lobisomem, seu companheiro de ofício, o adúltero Sir. Alfred Whiteman, passando pelo respeitável diretor do reformatório, Sr. Swift (o polonês Curt Lowens), e indo até o esquisito zelador Walter Jeoffrey (Luciano Pigozzi, creditado como Alan Collins), e o silencioso porteiro Tommy (Joseph Mercer).
O roteiro superficial também não explora as possíveis origens e motivos que levaram um homem a se transformar numa fera assassina, passando a idéia que um lobisomem não seria algo extraordinário, pelo contrário, seria algo comum que faz parte do cotidiano e que não surpreenderia ninguém (fato comprovado quando o assunto é abordado pela primeira vez, com uma naturalidade que deveria ser inexistente). Outro ponto fraco na história é que um espectador um pouco mais atento logo desconfia qual a identidade da fera, tornando o desfecho previsível. Mas, a despeito disso tudo, o filme é até recomendável a título de curiosidade e principalmente por apresentar todas as características de uma produção “B” despretensiosa. Eu prefiro bagaceiras como essa em vez de bombas dispensáveis como “Amaldiçoados” (Cursed, 2005), de Wes Craven, um lixo produzido com muito dinheiro e uma tecnologia moderna à disposição, mas que não evitaram o péssimo resultado final.
“O Lobisomem no Quarto das Garotas” foi filmado em preto e branco, tem apenas 83 minutos, e foi lançado em DVD no Brasil pela “Fantasy Music” em Setembro de 2006, na coleção “Sessão da Meia-Noite”, trazendo no mesmo DVD o filme “Criatura Sangrenta” (Blood Creature / Terror is a Man, 1959), com história baseada em “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells (não creditado).
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